Zé de Bragança Sem Papas na Língua!

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18 ANOS – crónicas, histórias e coisas assim… Do Zé de Bragança e do seu criador.
“(…) Nasceu o Zé de Bragança. Desde então escreveu com a dureza e a ironia que a capacidade do criador lhe consentiu.
Sem constrangimentos e em total liberdade. Verberando os unanimismos, o politicamente correto, os «dogmas» da «modernidade». Criticou muitos protagonistas do poder.
Denunciou equívocos e sofismas. Publicitou o sentimento popular que não tinha eco na Imprensa. Expôs opiniões e nunca recusou a controvérsia. Terá sido, porventura, incorreto e injusto, como foi hiperbólico e encomiástico. Exagerou umas e acertou noutras. Parodiou situações, satirizou comportamentos, ironizou atitudes. Foi cáustico com alguns e indulgente com outros. Por vezes contraditório e incoerente, mas nunca indiferente. Houve crónicas em que descobriu a alma, deixou fluir sentimentos e correr a lágrima. Mas o criador do personagem tem pais – e que orgulho em tê-los –, é pai – e que orgulho em sê-lo –, marido – e que bênção a recebida –, amigo de bons amigos – e que privilégio sabê-lo. É filho de uma terra prodigiosa, onde se procura quando perdido e se reencontra em tranquilo repouso no regaço maternal dos montes que o cercam (…).”

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Descrição

18 ANOS – crónicas, histórias e coisas assim… Do Zé de Bragança e do seu criador.
“(…) Nasceu o Zé de Bragança. Desde então escreveu com a dureza e a ironia que a capacidade do criador lhe consentiu.
Sem constrangimentos e em total liberdade. Verberando os unanimismos, o politicamente correto, os «dogmas» da «modernidade». Criticou muitos protagonistas do poder.Denunciou equívocos e sofismas. Publicitou o sentimento
popular que não tinha eco na Imprensa. Expôs opiniões e nunca recusou a controvérsia. Terá sido, porventura, incorreto e injusto, como foi hiperbólico e encomiástico. Exagerou umas e acertou noutras. Parodiou situações, satirizou comportamentos, ironizou atitudes. Foi cáustico com alguns e indulgente com outros. Por vezes contraditório e incoerente, mas nunca indiferente. Houve crónicas em que descobriu a alma, deixou fluir sentimentos e correr a lágrima. Mas o criador do personagem tem pais – e que orgulho em tê-los –, é pai – e que orgulho em sê-lo –, marido – e que bênção a recebida –, amigo de bons amigos – e que privilégio sabê-lo. É filho de uma terra prodigiosa, onde se procura quando perdido e se reencontra em tranquilo repouso no regaço maternal dos montes que o cercam (…).”

Informação adicional

Peso 0.358 kg
ISBN 978-972-24-1964-2
Data Publicação Julho 2020
Dimensões 15.5 × 23.5 cm
Número de Páginas 208
Encadernação Capa mole
Faixa Etária +18 anos
Por Ernesto Rodrigues, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Casa da Democracia

Manhã ou meia tarde pede este inesperado Sem Papas na Língua (Livros Horizonte, 205 p.), de Zé de Bragança, alter ego de José Luís Seixas, político, autarca e conselheiro presidencial, que não deixou de ser advogado e, desde o início do milénio, se revelou cronista de mão cheia. Mais: alguém que, em textos breves e com despacho estilístico e irónico, radiografa os principais sectores da vida social e política. Se fôssemos país habituado a reflectir sobre passos dados e protagonistas de quinta categoria, melhorávamos esta democracia – de pacotilha, tantas vezes. As doses de riso, até à gargalhada, que por aqui se vertem dão manhã ou meia tarde por bem vividas.

Corrido prefácio de Isabel Stilwell, que convidou José Luís Seixas a escrever no Notícias Magazine em 2002, o prólogo autoral retrata um sessentão «casado, pai de filhos, heterossexual e católico» (p. 16), identidade com reflexo em pontos de vista, à frente, sobre o casamento, a parentalidade, a orientação sexual. Na página seguinte, é “Sentado na minha varanda” bragançana – «submerso no horizonte da minha pátria, rodeado de montes,  polvilhados por uma irrepetível miscelânea de verdes e de castanhos feita de muitos matizes, protegidos pela Torre de Menagem, cujas ameias avisto ao longe, sentinela e guardiã deste templo recôndito de tranquila serenidade» – que convida o leitor «a olhar o país», ciente de que «há momentos em que quase acreditamos que é possível viver sem a pantomina». Sim, temos de acreditar, e quem está na política devera olhar-se neste espelho de papel.

Estas linhas anunciam um dos vectores da obra, no carinho pelo locus e família que nos dão o ser, opostos ao «efémero, desinteressante e relativo» de uma Lisboa entre «a querela política, os escândalos judiciários» e as proclamações governamentais que não levam a lado nenhum, salvo à desgraça. O mesmo dirá, na sexta e última parte, das «alucinações de uma jornalista americana» ao denegrir a cidade, a propósito da Time e suas mães de Bragança, opondo-lhe elogio das nossas gentes.

O olhar inaugural é sobre os vícios nacionais, «quiçá genéticos», reserva opinativa que nos responsabiliza, se começarmos por combater a corrupção, «mal endémico» (p. 21). Já em 1950, nos Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa, Jorge Dias alertava para essa mania de sobrepormos a simpatia humana às prescrições da lei, aqui dita «cultura dos conhecimentos», em que se é importante por conhecer alguém importante, de quem se espera favor. Na segunda crónica, os títulos académicos e dignidades inserem-se numa preocupação verberada desde o século XVII, dentro desse gosto pela ostentação que revemos nas “Conversas de senhoras de bem”: «Atrás de mim, três senhoras com indeléveis quatro decénios vividos, de aspeto finíssimo e oralidade afetada, atacavam esfaimadamente uma salada, verberando, com ciclópico entusiasmo, os similares comportamentos abandónicos dos seus respetivos maridos. Deglutiam alface frisada e tomates geneticamente diminuídos e diziam dos consortes o que Costa não diz de Seguro» (p. 25), etc.

Além da marcação de um tempo partidário, esta crónica anuncia, já, quadros sociais onde intervêm figuras e figurões em desenvolvimento ficcional (em raros parágrafos, estas criaturas louvarão os queridos maridos, que tudo lhes pagam) que o estilo vai perenizar, na linha de um Eça e Ramalho d’As Farpas, influentes em próximos assaltos. Adeptos de micro-sociologias, vamos por ali fora: sobre o beijo, por exemplo, eu podia dar alguns contributos. O primeiro beijo é na face esquerda ou direita? Depende dos povos. Os bons líderes comunistas davam quatro, amizade que recrudescia se fosse na boca. Outros temas: yuppies, presunção de paternidade, destino dos velhos, inquéritos de verão, festas, praxes, labéu sobre a virgindade, uniões homossexuais, etc. Em deixa sobre “O São Valentim alternativo”, fecha com o marido de Xantipa, aquele Sócrates que não era José, aconselhando algo que sempre refiro em aulas sobre a Carta de Guia de Casados e deu poema em 1986: casai-vos, sereis felizes; se não fordes, sereis filósofos. Alguma vantagem traz o casamento. Salientaria “A mulher entre séculos”, no tom sentido como evoca avós e mãe, ou, à frente, o destino inter-familiar da velha toga (p. 116-117).

Na II parte, “A política é perigosa”, relevo a crítica ao centralismo contra um «interior crescentemente sacrificado» (p. 76). E, genéticos sim, o nepotismo, a endogamia, os sábios comentadores, a pirataria fiscal, e tanta coisa a mudar, santo Deus! Desagua isso na III parte, “Os grandes protagonistas”, onde se percebe como, citando As Farpas de 1871, são escolhidos os governantes, sem que nada mude, seguindo-se retratos: Rio, Costa, Catarina, Sócrates, «o acólito» Constâncio. Raros se salvam, e mais alguns na IV parte, nesta selva obscura.

A V parte mistura o delírio de um Alfred Jarry ao absurdo de um Ionesco, e sai-nos a triste realidade de candidatos (que o não serão) às legislativas de 2005. Estas ‘entrevistas imaginárias’ são uma raridade entre nós, com precedentes nas primeiras imaginadas “interviews literárias”, que o diário lisboeta O Universal anunciou em 9 de Março 1892, «com personagens importantes e macabros da capital e mais partes do reino», ou «com as figuras cuja moleirinha mais alveja entre a multidão dos talentos pátrios» (10-III). A caracterização das personagens, o local da performance, as respostas, outros coloridos, vira tudo um primor de comédia, em que salientaria o Felisberto socialista. Se se fica pelo riso em cada cena, há forçosa gargalhada nas cinco entrevistas presidenciais que seguem. Realço “Presidente Louçã recebido no Vaticano”, a exigir palco ou estúdio de televisão; reunir Jerónimo e Berlusconi não é menos atrabiliário; Alegre em Buckingham não me vai fazer esquecer a imagem de Lady Camilla qual «ameixa encarquilhada» (p. 179), ou a rainha segredando ao nosso presidente: «– Coitada, o meu filho não distingue uma mulher de uma hortaliça.» (p. 180)

Preocupado em escrever as minhas coisas, leio (além dos clássicos) poucos livros dos coetâneos. Agarrei, todavia, neste Zé de Bragança e não despeguei. Seja na prosa sincopada de colunista polémico, na ironia de cronista heterodoxo, na ficcionalização de quadros hilariantes, estes textos responsabilizam-nos enquanto cidadãos que demandam não só a ‘pátria breve’ vista da varanda, mas um país inteiro, que deve ser casa da democracia.